quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Dominó




Primeira peça: Um rapaz acorda super de mal humor.
Ao sair de casa, briga com a mãe de cabelos vermelhos, que fica magoada. Na rua, na busca de emprego, insulta um flanelinha que tenta lavar o vidro do seu carro. O flanelinha, por sua vez, sai de perto, magoado, o que fez crescer ainda mais uma revolta em seu peito pela sua condição de vida, antes do almoço, passa em uma boca de fumo, compra droga com os trocados que conseguiu no sinal, alimenta seu vício e foge da realidade por alguns instantes. O traficante, pega aquele dinheiro, pensa que o negócio é lucrativo, investe ainda mais no tráfego e um dia, assalta uma senhora de cabelos vermelhos na rua. Essa senhora chora, inconsolada. Seu filho chega, abraça, se revolta com a segurança pública, com o governo. Cidadãos ao redor ficam ainda mais revoltados. Um deles, pai de família, lembra da dor que tem pois perdeu um filho em um assalto. Vai pra casa sobressaltado, e no caminho, deixa de dar um trocado para uma família que mendiga comida, deixando a mãe pobre ainda mais pobre de esperanças. Sem esperanças, não pôde educar seus filhos de um jeito sereno, o que fez com que um deles se entregasse ao tráfego. Esse filho da marginalidade juntasse com tantos outros em um morro, formam uma sociedade de valores, dominam a região, controlam drogas, dinheiro, relações, submissões. Uma onda de violência desce o morro, sai das favelas, e ameaça aquela gente de paz que se prende atrás de grades de condomínios fechados, carros blindados e casas monitoradas. Ondas de crimes, mais tráfego, mais flanelinhas, mais meninos sem esperança, mais dor, mais violência, caos, descontrole, medo, desigualdades, pedidos de socorro, injustiças, corrupção, fé, súplica, amor, compaixão, caridade, choro, morte. Com isso, um secretário de segurança pública desenvolve uma força tarefa, uma guerra pela paz. Sobe morro, tiros, polícia, forças humanas armadas, lema contra o tráfego, mortes ditas necessárias, prisões, choros, gritos de vitória, alívio, brincadeira de polícia e ladrão, conquista de território, suspiro, tiro, mídia, mundo, choque, paz, esperança, futuro.
Por meio ou fim, uma atitude em cadeia feito bola de neve que desce o morro. Tudo isso por uma peça, que caiu em falso, deslocada, fraca. 


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